900/07-Governos Armados: Como o Complexo Militar-Industrial Molda a Política e Transforma a Guerra em Commodity Rentável

 



Governos Armados: Como o Complexo Militar-Industrial Molda a Política e Transforma a Guerra em Commodity Rentável

A eleição de governantes com vínculos diretos ou indiretos com a indústria de armamentos revela uma contradição essencial do sistema capitalista: a fusão entre poder político e lucro bélico. Tal relação, longe de ser circunstancial, insere-se em uma lógica histórica de acumulação e reprodução do capital, sustentada pelo que a pesquisadora Ediane Maria dos Santos, em sua dissertação pela Universidade Federal de Alagoas, definiu como “função essencial do Complexo Militar-Industrial na sobrevivência do sistema do capital”

A função do complexo militar-in…

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A Guerra e a Violência como Commodity Rentável

A ideia da guerra e da violência como uma commodity rentável se baseia na existência e na influência do complexo militar-industrial, um sistema que gera lucros substanciais a partir de conflitos, armamentos e segurança. Essa dinâmica econômica cria um ciclo onde a instabilidade e o medo se tornam ativos de mercado — ou seja, quanto maior o caos, maior o lucro.

O Complexo Militar-Industrial

O termo foi popularizado pelo ex-presidente dos EUA Dwight D. Eisenhower, em 1961, ao alertar sobre a aliança crescente entre forças armadas, indústria de defesa e setor político. Hoje, essa engrenagem explica como conflitos são provocados e prolongados para sustentar uma economia baseada na destruição.

Componentes e Lógica

  • Indústria armamentista: corporações como Lockheed Martin, RTX e Boeing lucram com a produção de aviões, mísseis e tecnologias de guerra.

  • Governos: justificam o aumento dos gastos militares, explorando o medo e a insegurança.

  • Exércitos: garantem orçamentos crescentes e poder político.

  • Incentivo à guerra: quanto mais armas produzidas, mais justificativas se criam para usá-las.


A Violência como Mercadoria

A mercantilização da violência ultrapassa o campo das guerras internacionais e infiltra-se na vida cotidiana:

  • Segurança privada: o medo urbano gera lucro para empresas de vigilância e blindagem.

  • Cobertura midiática: a espetacularização da violência aumenta a audiência e a publicidade.

  • Tecnologia de vigilância: o discurso da “proteção” estimula a venda de softwares e dispositivos de controle.

  • Respostas punitivas: o discurso da “lei e ordem” sustenta a indústria carcerária e policial.

Assim, a violência é convertida em mercadoria — comprada, vendida e reproduzida em nome do lucro.


Exemplos do Lucro com a Guerra

Os conflitos recentes confirmam a tendência global de rentabilização da violência.

  • Guerra na Ucrânia: impulsionou o rearmamento europeu e gerou lucros recordes para as indústrias bélicas ocidentais.

  • Conflito em Gaza: elevou as exportações de armas e ampliou os ganhos de empresas israelenses.

Em 2023, os gastos militares globais ultrapassaram US$ 2,4 trilhões, o maior da história — prova de que a guerra se tornou um negócio global e permanente.

Mesmo no Brasil, a Primeira Guerra Mundial estimulou o surgimento de indústrias nacionais diante da interrupção das importações, mostrando que a lógica destrutiva também pode gerar oportunidades econômicas, ainda que efêmeras.


Críticas e Consequências

A visão da guerra e da violência como commodities rentáveis é duramente criticada:

  • Violação de direitos humanos: destrói vidas e comunidades.

  • Atraso econômico: desvia recursos de educação e saúde para o militarismo.

  • Estímulo à violência: perpetua conflitos que poderiam ser resolvidos pela diplomacia.

Como adverte Ediane Santos, “a lógica destrutiva do capital e a classe dominante fazem uso constante de instrumentos repressivos para punir àqueles que não se adequam”

A função do complexo militar-in…

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As 10 Estratégias de Manipulação em Massa — Noam Chomsky e a Guerra Invisível

Para compreender como o sistema bélico mantém-se socialmente aceito, é essencial examinar os mecanismos de manipulação e controle ideológico descritos pelo linguista e filósofo americano Noam Chomsky — considerado pelo The New York Times um dos mais importantes intelectuais contemporâneos.

Chomsky sintetizou as dez estratégias de manipulação em massa, que funcionam como instrumentos do poder para neutralizar consciências e moldar comportamentos — inclusive em tempos de guerra.

  1. Distração: desvia a atenção pública para temas irrelevantes, inundando a sociedade com entretenimento e consumo, enquanto decisões cruciais passam despercebidas.

  2. Problema–Reação–Solução: cria-se um problema (como insegurança), provoca-se reação social e oferece-se uma solução autoritária ou militar.

  3. Gradualidade: medidas impopulares são implementadas lentamente, até parecerem naturais — como a expansão contínua dos orçamentos de defesa.

  4. Deferir: impõe-se um sacrifício imediato prometendo benefícios futuros — a retórica do “mal necessário” usada em reformas e guerras.

  5. Infantilizar o público: trata-se o cidadão como incapaz de pensar criticamente, apelando à emoção e à autoridade paternal dos líderes.

  6. Recorrer às emoções: manipula-se o medo e o patriotismo para justificar ações militares e cortes de direitos.

  7. Criar públicos ignorantes: sabota-se a educação crítica, substituindo o pensamento reflexivo por slogans e fake news.

  8. Promover públicos complacentes: difunde-se modas, estilos e discursos que reforçam o conformismo social.

  9. Reforçar a autoculpabilidade: convence-se o indivíduo de que seus fracassos são culpa pessoal, desviando a indignação contra o sistema.

  10. Conhecimento profundo do ser humano: elites utilizam dados da psicologia e da biologia para moldar comportamentos coletivos, enquanto mantêm a maioria na ignorância.

Essas estratégias — aparentemente sutis — sustentam a dominação simbólica que legitima a guerra, a desigualdade e o consumo da violência como espetáculo.


O Cidadão como Contrapoder

Diante da manipulação e da militarização, o papel do cidadão é resistir com consciência crítica e engajamento ético.
É preciso:

  • Investigar o financiamento eleitoral e as relações entre políticos e a indústria bélica.

  • Apoiar o jornalismo independente e a educação crítica.

  • Promover a diplomacia e a cultura da paz como valores estruturantes da democracia.

Somente uma sociedade consciente pode desarmar a engrenagem da manipulação e romper o ciclo do medo que alimenta a guerra.


Entre o Lucro e a Vida: A Urgência de um Novo Paradigma

A dissertação de Ediane Maria dos Santos demonstra que o complexo militar-industrial é uma engrenagem estrutural do capitalismo global. Ele canaliza recursos públicos para a destruição e consolida uma economia da morte.

Como alertou Rosa Luxemburgo, “ou avançamos para o socialismo ou recaímos na barbárie”.
Hoje, essa barbárie está travestida de desenvolvimento tecnológico e defesa nacional — mas continua sendo o comércio da morte.

A escolha é coletiva: perpetuar a guerra como negócio, ou reconstruir o mundo como casa comum da humanidade.


Osvaldino Vieira de Santana
Mestre em Educação de Jovens e Adultos — Especialista em Política e Estratégia
Salvador/BA, 26 de outubro de 2025

 “A Guerra Tem Bolsa de Valores”

26/10/2026, por Osvaldino Vieira de Santana)

A guerra tem código de barras,
número de série, ação na bolsa,
e o sangue que escorre nas telas
rende dividendos ao medo que repousa.

Cada bomba lançada é um contrato,
cada lágrima, um balanço contábil;
a dor do povo, o mercado exato,
a paz — produto inviável.

No trono das indústrias do aço,
a fome é dado estatístico,
e a morte — moeda em alta —
vira lucro geopolítico.

Governos armados, línguas afiadas,
falas de paz com cheiro de pólvora,
convocam o povo à trincheira
com slogans e palavras de honra.

E o povo — infantilizado e distraído —
aplaude o discurso em cadeia,
não vê o fio que o conduz,
nem o jogo que o encadeia.

A mídia vende emoção em pacotes,
a dor em “tempo real” nos noticiários,
a lágrima do órfão é click valioso,
a morte, um anúncio publicitário.

As dez engrenagens do poder
Chomsky desenhou com clareza:
distração, medo, culpa e prazer —
a manipulação travestida de certeza.

E enquanto as bombas cantam hinos,
os mestres do capital brindam vitórias,
escrevem com cifras o destino
e apagam com fogo as memórias.

Mas há vozes que se erguem no ruído,
há mãos que semeiam lucidez,
há olhos que veem o não dito,
há corações que clamam por vez.

Pois cada cidadão desperto
é um míssil contra o engano,
cada gesto de consciência
é o início de um novo humano.

O lucro pode comprar silêncio,
mas não cala a verdade do chão:
a guerra é o negócio dos poucos,
a paz, a revolução da razão.


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