300/19-Dadau e a Resistência Silenciosa: Memórias de Baixa Grande




Dadau e a Resistência Silenciosa: Memórias de Baixa Grande

Por Osvaldino Vieira de Santana, 31/08/2025.

Em minha trajetória pessoal e familiar, guardo com profundo respeito a memória de meu irmão Orivaldo Vieira de Santana, o Dadau. Ele era filho do primeiro casamento de Petronília Vieira da Silva e Viriato Félix de Santana, união da qual nasceram:

  1. Osvaldo Vieira de Santana – 27/07/1946

  2. Odilon Vieira de Santana – 02/08/1947

  3. Olderico Vieira de Santana – 20/10/1948

  4. Osvaldina da Silva Santana – 16/03/1950

  5. Orivaldo Vieira de Santana (Dadau) – 11/07/1951

  6. Orlando Vieira de Santana – 04/03/1959

  7. Osvaldino Vieira de Santana – 05/05/1961

Embora nem sempre tenha ocupado espaços de visibilidade política disputando cargos eletivos, foi Dadau quem mais me influenciou a cultivar um olhar voltado para o coletivo, especialmente no seio da própria família.

Ainda jovem, testemunhei sua postura solidária. Com o suado dinheiro que ganhava como mecânico na oficina do finado Seu Luciano (pai de Flávia), ele ajudava e apoiava a família, sem nunca medir esforços para repartir o pouco que tinha. Esses gestos cotidianos já revelavam que sua vida estava alicerçada na partilha e no compromisso com o próximo.

Na turbulenta década de 1970, marcada pela ditadura militar, Dadau assumiu outro papel fundamental: rodava o município de Baixa Grande como motorista voluntário de Amado Fontoura, sem qualquer remuneração, movido apenas pela paixão e pela convicção de resistir às opressões locais, estaduais e nacionais.

Amado Fontoura, considerado o “Chico Pinto do Piemonte da Chapada”, era alvo constante de perseguições políticas. Ao seu lado, Dadau enfrentava as forças oligárquicas de então e convivia com ameaças frequentes, inclusive de morte, em um tempo em que ACM-pai controlava a Bahia com mão de ferro. De dia e de noite, no velho Jeep dos anos 50/60, eles percorriam estradas de chão, construindo juntos uma página de resistência que não pode ser esquecida.

Essa história nos lembra que a luta não é feita apenas por grandes nomes que ocupam a linha de frente, mas também por aqueles que atuaram na base e nos bastidores, sustentando com suor, coragem e anonimato a esperança de dias melhores.

Muito antes de Karl Marx, vozes precursoras já abriam caminhos para os trabalhadores e os marginalizados da história. Entre elas, destaco a aguerrida Flora Tristán, no século XIX, pioneira da luta pelos direitos das mulheres e pela valorização do trabalho — ainda pouco reconhecida pela historiografia oficial.

A lembrança de Dadau nos ensina que a resistência se constrói também com gestos simples e cotidianos, movidos pela generosidade e pela fé na justiça. Que essa memória permaneça como um instrumento de inspiração e resistência, para que a luta por dignidade nunca se apague e possa iluminar as próximas gerações.


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