O ABANDONO DIGITAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UM FENÔMENO GLOBAL QUE EXIGE RESPOSTAS URGENTES
Por Osvaldino Vieira de Santana – 23 de junho de 2025
Em pleno avanço da era digital, um fenômeno silencioso, mas devastador, tem afetado famílias em todo o mundo: o abandono digital de crianças e adolescentes. Trata-se da negligência, por parte de pais e responsáveis, no que diz respeito à orientação, supervisão e educação sobre o uso de tecnologias digitais, redes sociais e o vasto universo da internet. Essa omissão – muitas vezes motivada pelo desconhecimento, excesso de trabalho ou pela própria dependência tecnológica dos adultos – expõe crianças e adolescentes a riscos reais e duradouros.
O que é abandono digital?
Diferente da exclusão digital, que diz respeito à falta de acesso à internet e dispositivos, o abandono digital refere-se à falta de presença ativa e consciente dos adultos na mediação do uso da tecnologia pelos menores. Isso inclui não supervisionar o conteúdo acessado, não estabelecer limites de tempo, não dialogar sobre segurança digital, e muitas vezes, dar o exemplo do uso excessivo e descontrolado das telas.
Deixar uma criança sozinha em um ambiente virtual é, hoje, tão perigoso quanto deixá-la sem vigilância nas ruas de uma grande cidade.
Riscos concretos e consequências devastadoras
A exposição precoce e sem orientação à internet tem sido um gatilho para uma série de transtornos e situações perigosas. Entre os riscos mais comuns do abandono digital estão:
Acesso a conteúdos violentos, pornográficos e inadequados à faixa etária.
Práticas de cyberbullying, que frequentemente reverberam na violência escolar e no sofrimento psíquico.
Casos de grooming, nos quais adultos mal-intencionados se aproximam de menores com fins abusivos.
Vício em redes sociais e jogos online, com impacto direto na saúde mental.
Queda no rendimento escolar, isolamento social e baixa autoestima.
Como alerta o estudo de Brito & Domingues (2024), o abandono digital gera "danos psicológicos, comportamentais e educacionais", além de ser considerado uma forma contemporânea de negligência parental, com possíveis implicações legais.
A desumanização e a construção de uma sociedade adoecida
Não se trata apenas de uma crise no âmbito familiar. O abandono digital está moldando um novo tipo de sociedade, marcada pelo individualismo, pelo imediatismo, pela violência simbólica e pela depressão silenciosa. Crianças que crescem com vínculos frágeis, cercadas por algoritmos que estimulam o consumo, a vaidade e a agressividade, tornam-se adultos com dificuldades profundas de empatia, diálogo e convivência democrática.
A escola, por sua vez, se vê cada vez mais desafiada a lidar com os reflexos do mundo digital: distração constante, ansiedade social, e conflitos oriundos de interações online. O bullying escolar, por exemplo, ganhou novas formas e novos palcos – e raramente fica restrito ao ambiente físico.
O desafio dos pais e o novo paradigma da responsabilidade
É preciso reconhecer: muitos pais não dominam as linguagens, ferramentas e códigos do mundo digital. Isso, no entanto, não os isenta da responsabilidade de educar e proteger seus filhos. Pelo contrário: esse cenário exige novas formas de presença, escuta e envolvimento.
Entre as estratégias possíveis para enfrentar o abandono digital, mesmo sem domínio tecnológico, destacam-se:
Promover valores e diálogo constante, mostrando interesse pela vida digital dos filhos.
Estar presente e disponível, mesmo sem compreender todos os aspectos técnicos.
Buscar apoio de escolas, familiares e especialistas, criando uma rede de suporte e orientação.
Estabelecer limites claros de tempo e conteúdo, sem autoritarismo, mas com firmeza e afeto.
Estimular o pensamento crítico, para que os filhos aprendam a diferenciar o mundo real do virtual.
Não se trata de proibir, mas de participar. Não basta confiar que a tecnologia educará por conta própria – ela precisa de mediação humana, ética e afetuosa.
Implicações legais e sociais
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Constituição Federal brasileira reconhecem o dever dos pais de zelar pelo bem-estar e proteção dos filhos. Isso inclui, hoje, o ambiente digital. A omissão pode ser interpretada como negligência civil e gerar consequências jurídicas, além de profundas marcas emocionais e sociais. do alerta à ação coletiva
Do alerta à ação coletiva
O abandono digital não é apenas um problema individual ou familiar – é um sintoma de uma sociedade em transformação, que ainda não aprendeu a equilibrar tecnologia com humanidade. É urgente repensar o modo como educamos e cuidamos das novas gerações, assumindo o desafio de garantir que a internet seja um espaço de aprendizado, conexão e crescimento – e não um território hostil de solidão, consumo e violência.
É tempo de agir. Pela infância, pela juventude, pela saúde mental coletiva.
Sobre o autor
Osvaldino Vieira de Santana é educador, mestre em Educação de Jovens e Adultos e pesquisador em políticas públicas, ética e cultura digital. Em seu primeiro livro, previsto para 2025, aborda os dilemas da liberdade, da servidão voluntária e dos novos paradigmas sociais e tecnológicos que afetam a formação humana.
POESIA:
ABANDONO DIGITAL
Por Osvaldino Vieira de Santana
No silêncio das telas acesas,
cresce uma infância sem chão,
perdida em toques e cliques,
sem afeto, sem direção.
Pais ausentes de seus lares,
mesmo quando estão ao lado,
delegam aos algoritmos
o papel sagrado e negado.
Crianças navegando sozinhas
em mares de luz enganosa,
onde o laço é curtida vazia
e a alma se torna ansiosa.
Ninguém vigia os acessos,
ninguém orienta o cuidado,
e o mundo virtual se impõe
como um senhor disfarçado.
Ali se aprende o bullying cruel,
a zombaria viral, o desprezo,
e cada gesto desumano
é a lição de um novo tropeço.
O grooming bate à porta,
com um rosto de doçura falsa,
e pais que tudo ignoram
nem percebem a ameaça.
Os jogos, as redes, o vício,
trazem sorrisos de ilusão,
mas escondem por trás da tela
depressão, medo, solidão.
E os pais, sem voz digital,
se calam na era veloz,
não por falta de amor —
mas por não saber ser voz.
Mas há caminhos possíveis
para quem deseja ensinar:
diálogo, limite, presença,
e sobretudo: escutar.
Educar é mais que acesso,
é estar junto, é orientar,
é lembrar que amor se traduz
em tempo real — no olhar.
Não deixemos que a infância
seja órfã do essencial.
O mundo pede urgência:
basta de abandono digital.
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