32-“PIX Primeiro, Oração Depois”: O Escândalo da Fé Mercantilizada e o Clamor por uma Nova Reforma no Movimento Evangélico


 “PIX Primeiro, Oração Depois”: O Escândalo da Fé Mercantilizada e o Clamor por uma Nova Reforma no Movimento Evangélico

24/06/2025, Por Osvaldino Vieira de Santana

Um vídeo recente que viralizou mostra um pastor condicionando sua oração ao recebimento de um PIX — exigindo o comprovante antes de fazer sua intercessão. “Tá com o PIX aí? Mostra aqui, eu oro agora”, diz o líder, como se a fé fosse vendida na hora. A cena revela um desvio grave no movimento evangélico: a mercantilização da fé.

Teologia da Prosperidade: a fé como um produto

Esse caso não surgiu do nada. Ele faz parte de um fenômeno global conhecido como Teologia da Prosperidade (ou “fé mercadológica”):

  • Surgida nos EUA, no século XX, influenciada por doutrinas como Ciência da Mente e Novo Pensamento, defende que doações financeiras geram bênçãos materiais e cura  .

  • Seus pioneiros, como Essek W. Kenyon e Kenneth Hagin, ensinavam que declarar cura ou prosperidade via confissão positiva tornaria essas bênçãos realidade  .

  • No Brasil, líderes como Edir Macedo (IURD) e R. R. Soares consolidaram o modelo: culto‑negócio onde quem doa mais “semear” colhe prosperidade .

O mercado da fé e o papel da mídia

A Teologia da Prosperidade encontrou solo fértil no neoliberalismo global:

  • Com a globalização e o enfraquecimento do Estado‑Providência, igrejas neopentecostais se adaptaram, explorando os canais midiáticos para atrair fiéis e dons  .

  • O discurso exaltado: “determinar”, “vencer”, “confessar” — vende a ilusão de que fé é contrato com Deus, e que bênçãos são garantidas — desde que pagas .

Críticos denunciam que essa abordagem incentiva o individualismo, legitima o mercado selvagem e instrumentaliza os pobres — culpando-os por não prosperarem .

As Escrituras e o repúdio ao comércio da fé

Mas a Bíblia e líderes teológicos sempre se posicionaram contrários:

  • 2 Coríntios 2:17 – “…não somos como tantos, mercadejando a palavra de Deus…”

  • Mateus 21:12‑13, João 2:15‑16 – Jesus expulsa vendilhões do templo, declarando: “a minha casa será chamada casa de oração, mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.”

  • 2 Pedro 2:3, 1 Timóteo 6:5, Atos 8:18‑24 – denunciam avareza, exploração e tentativa de comprar o Espírito Santo.

A urgência de uma nova Reforma

Em 1517, Martinho Lutero denunciou os abusos da Igreja Católica. Hoje, passados 500 anos, vemos PIX, “sementes”, carnês de ofertas e curas tarifadas. Precisamos de reformadores contemporâneos — pessoas que defendam a fé sem comércio, a partilha sem lucro e a espiritualidade sem preço.

Fé não tem preço

A fé não é mercadoria. A oração não pode ser vendida. Quando a igreja se alia ao mercado, ela trai sua missão. Os verdadeiros vencedores não são aqueles que “universo financiar” apresenta como tal, mas os que seguem o exemplo de Jesus, oprimido dos ricos, pregado na cruz e símbolo da graça gratuita.

O pastor que exige PIX antes de orar é um sintoma – mas o mal é sistêmico. Está enraizado na Teologia da Prosperidade e alimentado por uma indústria religiosa que trata Deus como caixa. O remédio? Uma reforma profunda, de raízes bíblicas, comunitárias e éticas — que reponha a fé no lugar de dignidade que ela nunca deveria sair.

POESIA SOBRE O TEMA;

PIX Primeiro, Oração Depois

Na vitrine da fé, altar virou balcão,

Pastor não ora mais sem ver a doação.

“Mostra o PIX, meu irmão, que eu intercedo por ti”,

A bênção tem preço? Foi isso que eu ouvi?

No templo de outrora, cambistas fugiam,

Jesus com chicote limpava a avareza,

“Minha casa é oração!”, ele bradou com firmeza,

Mas hoje a sagrada virou empresa.

Prosperidade vendida a prestação,

Carnês de milagres, promessas em vão.

A fé virou lucro, contrato e sistema,

Um Deus à imagem do mercado, sem dilema.

Paulo escreveu com dura clareza:

“Não mercadejamos a Palavra da beleza.”

Pedro alertou: “Farão de vós negócio,”

Usando a verdade com disfarce e ócio.

Do púlpito ecoa um evangelho raso,

“Ofereça mais, que Deus te dá um abraço.”

Mas onde está o Cristo dos pobres, o justo?

Perdido entre os dízimos, silenciado no custo.

A cruz não se vende, a graça não se cobra,

O amor não se impõe por oferta ou manobra.

Oração não é moeda, nem bênção contrato,

É sopro divino, é dom, é trato exato.

Oh, quem nos dará uma nova Reforma?

Que rompa com o templo da fé que deforma,

Que traga de volta o Jesus insurgente,

Que curava de graça, que amava o indigente.

Se a igreja é mercado, então quem são os clientes?

Quem lucra com fé de corações inocentes?

Levanta, Lutero! Desperta, João!

É tempo de profecia, de indignação!

Pois se a oração depende de comprovante,

Já não é evangelho, é pacto farsante.

Mas ainda há vozes no vale da dor,

Que clamam por fé — sem fatura, só amor.



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