Financeirização e Jogos de Apostas: o Brasil no Labirinto do Capital Improdutivo
Por Osvaldino Vieira de Santana, 28/09/2025
Em sua obra “A Era do Capital Improdutivo”, o economista Ladislau Dowbor denuncia um fenômeno que vem redesenhando a economia global: a financeirização. Trata-se do processo em que o capital deixa de cumprir sua função social — financiar a produção de bens e serviços úteis à sociedade — e passa a girar em torno de si mesmo, transformando o dinheiro em fim em si mesmo.
No Brasil contemporâneo, esse processo se manifesta com nitidez nas plataformas de apostas online, que se multiplicam em ritmo acelerado. Cassinos digitais, como o popular “Jogo do Tigrinho”, e as chamadas bets esportivas atraem milhões de brasileiros com a promessa de ganhos rápidos e fáceis. Na prática, constituem um sistema que não gera riqueza produtiva, não cria empregos sustentáveis e não financia inovação. Ao contrário: extraem recursos da base social e os transferem para grupos econômicos que operam majoritariamente fora do país.
Capitalismo Extrativo na Era Digital
Assim como a financeirização, as apostas online configuram um capitalismo extrativo e predatório. Esses sistemas não investem na economia real, mas capturam renda de jovens, desempregados e trabalhadores precarizados, alimentando ilusões de ascensão financeira instantânea. O lucro concentra-se nas mãos de influenciadores digitais contratados para promover as plataformas e nos operadores internacionais que controlam o mercado.
A lógica lembra a do sistema financeiro especulativo: um jogo de soma zero, no qual muitos perdem para que poucos acumulem. A diferença é que, agora, a extração de valor ocorre não apenas via mercados globais, mas também por meio de aplicativos que cabem no bolso de qualquer cidadão.
O Impacto Social
O crescimento das plataformas de apostas expõe a fragilidade do Estado brasileiro diante da regulação digital. Jovens mergulham em dívidas, famílias enfrentam perdas financeiras significativas e a economia vê escapar recursos que poderiam estar circulando em atividades produtivas locais.
Especialistas alertam que, sem um marco regulatório sólido, o país caminha para um quadro semelhante ao da dependência financeira global: riqueza sendo drenada para fora, enquanto a base produtiva e social permanece subutilizada.
Um Desafio para o Brasil
O alerta de Ladislau Dowbor ganha atualidade: quando a economia se orienta pela lógica do ganho fácil, perde-se a conexão entre capital e sociedade. O Brasil, que já sofre com a financeirização do sistema financeiro tradicional, agora enfrenta um novo campo de extração de riqueza improdutiva no ambiente digital.
A questão que se coloca é se continuaremos permitindo que plataformas de apostas sigam crescendo como engrenagens de um capitalismo improdutivo — ou se construiremos políticas públicas capazes de redirecionar o capital para atividades que gerem emprego, inovação e desenvolvimento sustentável.
