36-O Sequestro do Orçamento Público




 Por Osvaldino Vieira de Santana

07/09/2025

O Brasil, apesar de ser a nona maior economia do mundo, permanece atolado em um paradoxo que corrói suas bases sociais: mais da metade do orçamento público federal é sequestrada pelo sistema financeiro para o pagamento da dívida pública — juros e amortizações que alimentam lucros bilionários de banqueiros e investidores.

Essa distorção orçamentária representa, ano após ano, a sangria de trilhões de reais que deixam de ser aplicados em hospitais, creches, escolas, segurança pública e políticas de inclusão social. Na prática, significa filas nos hospitais, salas de aula superlotadas, insegurança nas ruas e a negação de direitos básicos à população.

Juros Altos: A Máquina da Concentração

O Brasil ostenta a marca de ter uma das maiores taxas de juros reais do planeta. A Selic, apresentada como instrumento técnico de “controle inflacionário”, converte-se, na verdade, em mecanismo político de transferência de renda. Cada ponto percentual adicional na taxa de juros significa bilhões desviados do orçamento público para remunerar os rentistas.

Não é à toa que, enquanto países desenvolvidos sustentam juros próximos a zero ou até negativos, o Brasil insiste em sacrificar seu povo em nome de uma ortodoxia econômica que interessa a poucos e prejudica a muitos.

A Servidão Voluntária Contemporânea

Essa lógica não é apenas econômica, mas ideológica. Assim como Étienne de La Boétie escreveu no século XVI, vivemos uma servidão voluntária moderna, em que aceitamos como natural a prioridade absoluta do pagamento da dívida, mesmo que isso custe a fome, a desigualdade e a morte evitável de milhares de brasileiros.

O “contrato social” vigente no país é perverso: garante privilégios ao setor financeiro, enquanto precariza os direitos sociais. É como se o Brasil fosse governado por uma aristocracia invisível, os banqueiros, que determinam o destino do orçamento e, por consequência, o futuro da nação.

Romper o Ciclo

Não se trata apenas de uma questão técnica de contabilidade pública, mas de uma decisão política. A auditoria cidadã da dívida pública, prevista na Constituição e jamais realizada, é um passo fundamental para expor a engrenagem de privilégios que aprisiona o orçamento nacional.

Reformas no sistema financeiro, a redução estrutural da taxa de juros e o redirecionamento do orçamento para políticas públicas são medidas urgentes. Caso contrário, seguiremos como um dos únicos países do mundo que nega ao seu povo saúde, educação e dignidade em nome da satisfação de rentistas

Enquanto o orçamento for sequestrado, o Brasil não será uma democracia plena, mas um feudo moderno em que banqueiros decidem os rumos da nação. Romper com essa lógica é mais do que um ato econômico: é um gesto de libertação coletiva contra a servidão voluntária que aprisiona o presente e o futuro do nosso povo.


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