Adeus a Wilson Aragão, a voz poética do sertão baiano
Por Orlando Vieira de Santana | 28/05/2025
Com imensa tristeza, recebemos a notícia do falecimento de Wilson Aragão, aos 75 anos, neste sábado (24). Natural de Piritiba, no coração do sertão baiano, Wilson foi muito mais que cantor e compositor — foi um artista do povo, um militante da cultura popular e uma voz viva do Brasil profundo.
Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, Aragão cantou com verdade, poesia e coragem. Suas canções são retratos sonoros da vida sertaneja, das lutas do campo e da resistência cultural nordestina.
Obras como “Capim Guiné” e “Guerra de Facão” atravessaram gerações, ganhando os palcos e os discos de artistas consagrados, como Raul Seixas, Tânia Alves, Zé Ramalho e Falcão. No entanto, mais do que o sucesso comercial, sua música sempre esteve comprometida com a denúncia das injustiças sociais e com a valorização da identidade do povo do campo.
Companheiro de lutas e de sonhos, Wilson Aragão foi presença marcante nas atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Seu violão e sua voz ecoaram em feiras, encontros, ocupações, acampamentos e assentamentos. Com sua arte, ele alimentou não apenas a alma, mas também a esperança de um povo que luta por reforma agrária, dignidade e liberdade.
Wilson cantou para quem planta, para quem colhe, para quem resiste e para quem sonha. Sua música virou bandeira, sua poesia virou chão fértil onde brotam memória, resistência e pertencimento.
Foi ainda em Piritiba, sua terra natal, que Raul Seixas ouviu, pela primeira vez, uma canção muito cantada na região: “Capim Guiné”, composta por Wilson em 1979. Filho do proprietário da Fazenda Folha Branca, no município de Morro do Chapéu, a cerca de 70 quilômetros de Piritiba, Aragão transformou suas raízes sertanejas em uma obra que rompe fronteiras, preserva tradições e denuncia opressões.
O Brasil perde uma de suas maiores vozes da cultura popular nordestina. Mas sua obra permanece viva — na memória, na luta e na canção de quem não desiste de um país mais justo.