11-Flora Tristán e a Uberização do Trabalho: Um Chamado para a Resistência dos Trabalhadores e Trabalhadoras no Século XXI

 

 Flora Tristán e a Uberização do Trabalho: Um Chamado para a Resistência dos Trabalhadores e Trabalhadoras no Século XXI

Autor: Osvaldino Vieira de Santana, historiador especialista em política e estratégia







Flora Tristán, escritora e ativista do século XIX, denunciou as condições desumanas da classe operária e trouxe à tona a necessidade de unir trabalhadores e trabalhadoras para alcançar justiça social. Em sua obra "A União Operária" (1843), Flora antecipou debates sobre a exploração no trabalho e a invisibilização das mulheres na luta de classes. Hoje, suas ideias ecoam em um mundo que enfrenta novas formas de precarização do trabalho, como a uberização, acompanhada de desigualdade de gênero e brutal concentração de renda.

1. Uberização do trabalho: o novo rosto da exploração

A uberização representa uma nova fase de exploração que Flora Tristán, com sua visão crítica, certamente denunciaria. Esse fenômeno, descrito como uma relação laboral mediada por plataformas digitais, promete autonomia e flexibilidade, mas mascara a precarização e a perda de direitos fundamentais.

  • Ausência de vínculo empregatício: Os trabalhadores, como motoristas e entregadores, são tratados como "parceiros" ou "empreendedores". Na prática, isso significa ausência de FGTS, previdência, férias remuneradas e descanso garantido.

  • Jornadas extenuantes: Para alcançar uma renda mínima, trabalhadores precisam prolongar suas jornadas, resultando em cansaço físico e mental. O relatório Fairwork Brazil 2023 demonstra que apenas 3 das 10 plataformas analisadas atendem a princípios básicos de trabalho justo.

  • Remuneração volátil: A precificação do serviço é controlada pelas plataformas, sujeita a variações e descontos que ampliam a instabilidade financeira.

A uberização, portanto, representa um retrocesso histórico ao permitir relações de trabalho que desconsideram direitos conquistados ao longo do último século. Flora, ao defender o direito à dignidade dos trabalhadores, antecipou a crítica às estruturas que hoje reforçam o discurso do "empreendedorismo de si mesmo" como solução ilusória.

2. As mulheres e a dupla exploração

Flora reconheceu as mulheres como "proletárias do proletário", destacando a opressão de gênero como pilar da exploração. Nos dias atuais, a realidade se agrava:

  • A dupla e tripla jornada impõe às mulheres o trabalho formal, as tarefas domésticas e os cuidados familiares.

  • A precarização do trabalho afeta ainda mais as mulheres, que frequentemente compõem a base do mercado informal, intensificando desigualdades e problemas de saúde física e mental.

  • A ausência de políticas públicas efetivas reforça a invisibilidade desse esforço.

3. Concentração de renda: a luta continua

Flora Tristán viveu em uma época marcada pela concentração de riqueza nas mãos da burguesia industrial. No Brasil do século XXI, a desigualdade atinge níveis alarmantes: seis brasileiros possuem a riqueza equivalente ao patrimônio de 100 milhões dos mais pobres.

O modelo capitalista contemporâneo, apoiado pela uberização e pela desregulamentação das relações de trabalho, amplia o abismo social. Flora afirmava que a liberdade dos trabalhadores deveria ser coletiva e universal, algo que segue como um desafio central para o Brasil e o mundo.

4. A urgência de novas "Floras Tristáns"

A história de Flora Tristán nos ensina que a resistência precisa ser construída coletivamente. Hoje, diante da precarização, da exclusão de direitos e da invisibilização das mulheres, surgem movimentos que ecoam sua luta:

  • Cooperativismo de plataforma: Em resposta à uberização, iniciativas como o AppJusto no Brasil e cooperativas francesas têm surgido para garantir condições dignas e autonomia real aos trabalhadores.

  • Feminismo e sindicalismo populares: Movimentos sociais que unem trabalhadores e trabalhadoras reafirmam a importância da luta por direitos universais e igualdade de gênero.

Flora Tristán foi pioneira ao denunciar que a emancipação da classe trabalhadora só seria possível com a libertação das mulheres. Seu legado nos desafia a enfrentar as novas formas de exploração do trabalho, representadas pela uberização e pela precarização. O Brasil, com suas desigualdades brutais e jornadas exaustivas, precisa de novas "Floras Tristáns", líderes que inspirem a luta por justiça social, direitos trabalhistas e igualdade de gênero.

Como Flora dizia: "Entre o mestre e o escravo, não há nada além do cansaço da corrente que os une. Lá onde não há liberdade, não pode haver felicidade". Hoje, é tempo de resistência, tempo de transformação.

Poesia : O Canto de Flora Tristán: Ontem e Hoje

14/12/2024, Por Osvaldino Vieira de Santana

Na teia do tempo, Flora prolonga a voz,
Contra as correntes, erguidas em nós.
Pária na terra, pátria do suor,
Brilhou em escritos, calando o opressor.

No fogo das fábricas, a vida se esvai,
Exploração que hoje, também não se vai.
Nas ruas de agora, rostos sem fim,
Sob o peso do tempo, a luta é assim.

Plataformas de lucro, escravas digitais,
Sem férias, sem pausa, jornadas brutais.
Trabalhador “livre”, promessa vazia,
Cavalga na sombra da nova tirania.

E as mulheres, Floras do nosso presente,
Carregam o mundo, em rosto valente.
Dupla jornada, o corpo se cansa,
Enquanto o patrão  descansa.

Flora nos grita, do passado distante:
“O mundo só muda com passo constante.
União operária, de todos, de todas,
Quebrando as correntes, vencendo as rodas.”

Marcham os pobres, nas sombras do chão,
Semeando justiça, clamando por pão.
Resistência é voz, é chama que arde,
Flor Tristán, teu nome, na luta se guarda

https://open.spotify.com/album/3L82sTPWxJhoQufa4s3PM0?si=sjDJrQs7QNK1FpH0m1yw8A
👆11- música adaptada do poema "O canto  de Flora Trinstán:ontem e hoje, gênero mucial, rap.
Postagem Anterior Próxima Postagem

Formulário de contato