22-O Legado de Victor Lebow e o Futuro da Consciência Planetária.

 

Obsolescência Programada: O Legado de Victor Lebow e o Futuro da Consciência Planetária

04/11/2024, por Osvaldino Vieira de Santana.

Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos emergiram como a única grande economia cuja infraestrutura industrial permaneceu intacta. Com um parque produtivo ampliado pelo esforço de guerra e milhares de soldados retornando ao mercado de trabalho, o país enfrentava o desafio de evitar uma nova recessão semelhante à da década de 1930. Nesse contexto, o consultor de varejo Victor Lebow propôs uma solução que parecia ideal: estimular o consumo em massa para sustentar o crescimento econômico.

Lebow afirmou que "nossa economia enormemente produtiva [...] requer que façamos do consumo o nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de mercadorias em rituais [...] nós precisamos de coisas consumidas, destruídas, gastas, substituídas e descartadas numa taxa continuamente crescente". Essa filosofia deu origem à prática da obsolescência programada, onde produtos são deliberadamente fabricados com vida útil limitada para incentivar compras frequentes.

No entanto, essa transição da "economia do abastecimento" — na qual as pessoas compravam apenas o necessário — para uma "economia de consumo" desenfreado trouxe consequências ambientais e sociais significativas. O economista Ladislau Dowbor destaca que, assim como a sociedade de consumo foi planejada, é imperativo planejar uma economia que desfaça essa armadilha na qual nos encontramos. Embora existam diagnósticos e metas estabelecidas sobre as falhas do modelo econômico atual, que deixa cerca de um terço da humanidade sem acesso a direitos básicos como educação, água potável, saneamento, alimentação e habitação, há uma notável ausência de planejamento sobre como transformar a produção e o consumo rumo a uma economia de baixo impacto ambiental e alinhada com as metas globais de redução de emissões de carbono.

O Impacto Ambiental da Obsolescência Programada

Nas últimas cinco décadas, a economia global testemunhou avanços tecnológicos significativos. Contudo, indicadores como o crescimento populacional, aumento do Produto Interno Bruto (PIB), extinção de espécies, uso de combustíveis fósseis, desmatamento e sobrepesca mostram que a exploração dos recursos naturais e os impactos das atividades humanas cresceram de forma exponencial.

Embora tenha havido progressos na ecoeficiência — produzindo mais com menos recursos — o modelo econômico baseado no ciclo acelerado de consumo e descarte continua a intensificar os danos aos ecossistemas e não consegue reduzir as desigualdades sociais. O professor Ricardo Abramovay, da Faculdade de Economia da USP, ressalta que, apesar dos avanços em eficiência desde a Rio-92, o aumento absoluto no consumo de recursos naturais supera os ganhos de eficiência, exacerbando os impactos ambientais.

Os automóveis dirigidos por nossos avós continham mais materiais (eram mais pesados) e consumiam mais combustível do que os de hoje. No entanto, o volume total de combustível utilizado atualmente pela humanidade é centenas de vezes maior do que há 50 anos. Isso revela um paradoxo: mesmo com tecnologias mais eficientes, o impacto ambiental continua crescendo devido ao modelo de produção baseado no consumo acelerado e na reposição constante de bens descartáveis.

A Educação como Ferramenta para um Novo Paradigma Econômico

Diante desse cenário, é crucial repensar o papel da educação na formação de cidadãos críticos e conscientes. Um sistema educacional que promova a consciência ambiental e social pode capacitar indivíduos a desenvolver soluções que beneficiem tanto a sociedade quanto o meio ambiente.

A falta de consciência ambiental crítica induziu Victor Lebow a propor a ideia da obsolescência programada. No entanto, os futuros inovadores devem passar por uma formação educacional que priorize a preservação da vida no planeta. Se figuras influentes como Lebow tivessem sido educadas para a sustentabilidade, talvez tivessem direcionado suas habilidades para inovações como:

  • Criação de empregos verdes, que promovam o desenvolvimento sustentável;

  • Tecnologias para recuperação de áreas degradadas e desertificação;

  • Métodos avançados de despoluição de rios, lagos e oceanos;

  • Modelos produtivos que reduzam o desperdício e incentivem a economia circular.

A transição para uma economia sustentável exige mais do que avanços tecnológicos; requer uma mudança fundamental nos valores e práticas sociais. Como afirma Abramovay, é necessário ir além da ecoeficiência e adotar uma postura de sobriedade no consumo, questionando os significados e objetivos do crescimento econômico.

Somente através de uma educação transformadora e de políticas públicas eficazes poderemos construir uma economia que respeite os limites do planeta e promova o bem-estar de toda a humanidade. O momento exige reflexão: continuaremos reféns de um sistema que destrói recursos e acelera desigualdades, ou construiremos um futuro em que a criatividade e a inovação sirvam à vida, e não à destruição.

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