24-Brasil: A Estrutura da Escravidão Ainda Persiste Quase Intacta

 



Brasil: A Estrutura da Escravidão Ainda Persiste Quase Intacta

18/01/2025, Por Osvaldino Vieira de Santana

O Brasil carrega em sua história uma das mais longas e brutais trajetórias de escravidão do mundo. Durante quase quatro séculos, a economia e a estrutura social foram moldadas pelo trabalho forçado de milhões de africanos e seus descendentes. Apesar da abolição oficial em 1888, a herança dessa violência permanece viva, refletindo-se na marginalização da população negra, na perpetuação do racismo estrutural e na crescente precarização do trabalho. O país nunca rompeu de fato com a lógica escravista, e hoje vemos novas formas de exploração que negam direitos básicos e perpetuam a desigualdade.

Uma Linha do Tempo da Escravidão no Brasil

1530: Início da colonização portuguesa e chegada dos primeiros escravizados indígenas.

1538: Primeira remessa oficial de africanos escravizados ao Brasil.

Séculos XVI a XIX: Crescimento do tráfico transatlântico, com cerca de 5 milhões de africanos forçados a viver em condições desumanas no Brasil.

1850: Lei Eusébio de Queirós proíbe o tráfico de escravizados, mas a exploração interna continua.

1888: A Lei Áurea é assinada, abolindo formalmente a escravidão, sem qualquer política de reparação ou inclusão dos ex-escravizados na sociedade.

A Redução do Sujeito a Objeto de Trabalho

O sistema escravista não apenas retirou a liberdade dos povos africanos trazidos ao Brasil, mas desumanizou-os, transformando pessoas em mera força de trabalho. A noção de que o negro existia apenas para servir consolidou-se ao longo dos séculos e permanece enraizada em diversas estruturas sociais e econômicas. Hoje, os descendentes dos escravizados ainda enfrentam as consequências desse sistema, sendo maioria nos trabalhos mais precarizados, na informalidade e na miséria.

O Estrago Psicológico: A Normalização da Perda da Liberdade

O maior triunfo do sistema escravista foi sua capacidade de moldar mentes e corações, oprimidos foram levados a aceitar sua condição, reproduzindo a lógica do sistema que os subjugava. 

A submissão era ensinada como virtude, e a defesa do opressor tornou-se um reflexo condicionado. Esse fenômeno psicológico ainda pode ser observado hoje, quando trabalhadores explorados, muitas vezes, defendem o próprio sistema que os oprime, seja por falta de alternativas, seja por um processo histórico de alienação.

O Bloqueio da Educação: Um Projeto Deliberado

A exclusão dos escravizados da educação foi uma estratégia para manter o sistema intacto. Afinal, a consciência e o conhecimento são ferramentas fundamentais para a libertação. Mesmo após a abolição, a negação do acesso à escola continuou por décadas, e até hoje a população negra enfrenta barreiras na educação formal. O reflexo disso está nos índices de analfabetismo, na evasão escolar e na sub-representação dos negros em espaços acadêmicos e de poder.

O Neoliberalismo e a Nova Onda da Escravidão Moderna

Nos últimos anos, o avanço do neoliberalismo tem promovido um retrocesso brutal nos direitos trabalhistas conquistados ao longo do século XX. A revogação de leis trabalhistas e a ascensão de modelos de trabalho ultraflexíveis, como os aplicativos de transporte e entrega, trouxeram de volta um cenário de exploração análogo à escravidão.

Os trabalhadores de plataformas como Uber e iFood não têm jornada de trabalho definida, não possuem garantias como salário mínimo, férias ou previdência, e são descartáveis a qualquer momento. A justificativa de que são “empreendedores de si mesmos” mascara a realidade de um modelo que os aprisiona na necessidade de trabalhar exaustivamente para sobreviver, sem qualquer segurança ou perspectiva de melhora.

Conclusão: A Escravidão Nunca Acabou

A abolição foi um marco legal, mas a estrutura da escravidão nunca foi totalmente desmontada. As novas formas de exploração são herdeiras diretas do modelo colonial, adaptadas às exigências do capitalismo moderno. Enquanto não houver uma verdadeira ruptura com essa lógica, milhões de brasileiros continuarão sendo escravizados, seja nas lavouras, na construção civil, nos serviços domésticos ou nos aplicativos de entrega.

O Brasil precisa encarar sua história com responsabilidade e construir políticas públicas que realmente combatam a desigualdade e a exploração. Do contrário, continuaremos sendo um país que apenas modernizou a escravidão, mantendo-a viva sob novas roupagens.


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