O consumismo na sociedade capitalista: o que é a obsolescência programada?
Com os avanços do modo de produção do sistema
capitalista, que foram intensificados ao longo do século XX, sobretudo adotando
modelos dos Estados Unidos (como o taylorismo e o fordismo) que,
posteriormente, espalharam-se pelo mundo, a produção foi bastante intensificada.
Nesse sentido, a referência de desenvolvimento econômico e social capitalista é
pautada pelo aumento do consumo, que maximiza o lucro do comércio e das grandes
empresas. O interesse em gerar mais empregos e aumentar a renda da classe
trabalhadora seria na verdade o de aumentar a capacidade de consumo. Ao
desequilibrar esse modelo, há uma crise, pois a renda diminui com o desemprego
elevado e o acesso a elementos básicos seria mais dificultado.
As raízes desse modelo tão criticado da nossa
sociedade capitalista estão vinculadas ao processo de Revolução Industrial, mas
foi com a emergência do American
Way Of Life (jeito americano de viver) no início do
século XX, nos Estados Unidos, que intensificou essa problemática. Segundo o
estilo de vida estadunidense, as famílias propagavam
um ideal de felicidade por meio do consumo de produtos industrializados
(rádios, eletrodomésticos, aspirador de pó, comida enlatada, carro próprio, etc).
A consequência foi uma crise de superprodução das fábricas, que ficaram com
grandes estoques de produtos sem um mercado consumidor capaz de absorvê-los,
gerando a crise de 1929.
Para que as fábricas continuassem
produzindo em massa e os produtos fossem difundidos, modelos de desenvolvimento
pautados na melhoria de renda e ampliação do crédito facilitado foram
estabelecidos, com o objetivo de ampliar cada vez mais o consumo. Desse modo, aquela
crise econômica do século XX teve fim, mas a problemática maior permanece, pois
o consumo pelo consumo é uma maneira contraditória, ineficaz e insustentável de
manter o desenvolvimento das sociedades.
A nossa sociedade industrial capitalista não depende dos
desejos espontâneos das pessoas. Nessa perspectiva, os nossos desejos pelas
mercadorias são socialmente criados e manipulados com a grande força da
publicidade direta e indireta (em filmes do cinema, comerciais, telenovelas e
hoje cada vez mais com as redes sociais, por exemplo) e isso é fundamental para
que a sociedade de consumo produza não apenas mercadorias, mas também
consumidores cada vez mais persuadidos e motivados a consumir. Assim, a
publicidade é a principal fonte de instigação do desejo de consumir sabonete,
sabão em pó, sapato, roupa, alimentos, celular, automóvel etc, formando o que
chamamos de sociedade de consumo. Isso se deve ao fato de que, no capitalismo,
há uma produção excedente de mercadorias, ou seja, o ciclo de produção e
consumo, que retroalimenta a acumulação de capital gerando lucro aos donos das
empresas, precisa produzir muito mais do que apenas os produtos que satisfaçam
as necessidades mais fundamentais das pessoas, como comer, vestir-se e
morar.
Nesta sociedade de consumo, um dos
aspectos mais criticados é a obsolescência
programada ou
obsolescência planejada que nada mais é que a produção de mercadorias
previamente criadas para perder suas funções, levando ao descarte, fazendo com
que o consumidor compre um novo produto num curto espaço de tempo. A
obsolescência programada surgiu na década de 30 como parte do pacote de soluções
ao desemprego e resposta à crise econômica que atingiu principalmente os
Estados Unidos e em seguida vários países do mundo.
Além
da obsolescência programada técnica, que é sobre a funcionalidade da mercadoria,
existe também a obsolescência
psicológica ou perceptiva, que ocorre quando o consumidor, apesar
de ter um produto em bom estado de conservação, sente a “necessidade” de comprar
um novo e descartar o antigo.
Um
exemplo dessa situação foi o caso do lançamento do iPad 4, da empresa Apple que,
inclusive, foi processada pelo Instituto Brasileiro de Política e Direito da
Informática por lançar essa versão poucos meses depois de ter colocado em
circulação o iPad 3. Os
usuários desse produto, diante do lançamento de uma nova versão que praticamente
não apresentava diferenças técnicas, viram o seu produto como obsoleto e
procuraram comprar a nova versão. Importa lembrar que essa não é uma ação de
uma única empresa, mas uma estratégia coletiva de mercado.
Com isso, aumenta-se o consumo e
também a demanda por recursos naturais e a produção de lixo, consistindo uma
problemática ambiental que é consequência desse processo. Diante desse quadro,
há o debate e adoção de políticas sociais para o controle do consumismo
exagerado, de modo a encontrar meios econômicos alternativos ao desenvolvimento
pautado no consumo. Além de também existir a promoção de políticas de
reciclagem, a reutilização ou reaproveitamento dos produtos não mais
utilizados, amenizando, dessa forma, a grande produção de lixo eletrônico e a
demanda desenfreada por matérias-primas. Sobre isso, as estudiosas sobre o
assunto, Padilha e Bonifácio (2013) disseram:
É comum um telefone celular
ir ao lixo com menos de oito meses de uso ou uma impressora nova durar apenas
um ano. Em 2005, mais de 100 milhões de telefones celulares foram descartados
nos Estados Unidos. Uma CPU de computador, que nos anos 1990 durava até sete
anos, hoje dura dois anos. Telefones celulares, computadores, aparelhos de
televisão, câmeras fotográficas caem em desuso e são descartados com uma
velocidade assustadora. Bem-vindo ao mundo da obsolescência planejada!
REFERÊNCIAS
CONCEIÇÃO, Joelma Telese Pacheco;
CONCEIÇÃO, Márcio Magera; ARAÚJO, Paulo Sérgio Lopes de. Obsolescência
programada – tecnologia a serviço do capital. INOVAE - Journal of Engineering and Technology Innovation, São
Paulo, v. 2, n. 1, p. 90-105, jan./abr., 2014. Disponível em: < http://www.revistaseletronicas.fmu.br/index.php/inovae/article/view/386>. Acesso em: 18 set. 2018.
PADILHA,
Valquíria. Desejar, comprar e descartar: da persuasão publicitária à
obsolescência programada. Cienc. Cult,
São Paulo , v.68, n.4, Oct./Dec. 2016. Disponível em:
< http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252016000400015>.
Acesso em: 18 set. 2018.
PENA, Rodolfo F. Alves.
"Obsolescência Programada"; Brasil
Escola. Disponível em
<https://brasilescola.uol.com.br/geografia/obsolescencia-programada.htm>.
Acesso em 19 de setembro de 2018.
PADILHA, Valquíria;
BONIFÁCIO, Renata Cristina A. Obsolescência
planejada: arma estratégica do capitalismo. Disponível em<https://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/obsolescencia-planejada-arma-estrategica-do-capitalismo/> Acesso em 18 set.
2018.