07-“Ignorância, Religião e Redes Sociais: As Ferramentas do Autoritarismo no Século XXI”

 “Ignorância, Religião e Redes Sociais: As Ferramentas do Autoritarismo no Século XXI”


10/01/2024, Por Osvaldino Vieira de Santana 






Este tema expõe com precisão o retorno de práticas nefastas, que já deveriam estar sepultadas pela história, mas que encontram terreno fértil na ignorância manipulada e potencializada por interesses sombrios. 


Este fenômeno, lamentavelmente, não é novo. É um ciclo que se repete em diferentes sociedades e períodos históricos, favorecendo sempre aqueles que se beneficiam da exploração, da opressão e da manutenção de um status quo que privilegia poucos em detrimento de muitos.


A) O Culto à Ignorância e a Preservação da Classe Dominante


A ignorância nunca foi uma falha meramente individual, mas um projeto político. 


Manter o povo alheio ao conhecimento crítico é uma estratégia das elites dominantes para perpetuar suas posições de poder. 


Um povo ignorante não questiona, não reivindica seus direitos e se torna presa fácil de discursos manipuladores. 

Essa alienação planejada vem sendo reforçada por governos e líderes que têm como objetivo enfraquecer as instituições democráticas, atacar a liberdade de imprensa e desqualificar o conhecimento científico.


Quando o obscurantismo toma o lugar da razão, o fanatismo cega as massas e legitima a violência. 


E é precisamente isso que favorece as classes dominantes: o povo, alienado e sem consciência crítica, torna-se defensor de seus próprios algozes, atacando aqueles que ousam pensar diferente. 


Esse culto à ignorância não é espontâneo — é um projeto meticulosamente articulado por quem detém o poder e teme perdê-lo.


B) Religião como Instrumento de Controle e Alienação de Massas


Ao longo da história, as religiões desempenharam papéis decisivos na manipulação das massas e na manutenção das estruturas de poder. 


As grandes religiões monoteístas, em particular, consolidaram o discurso de submissão às autoridades políticas e religiosas como um mandamento divino. 


No século VII, o Islã expandiu-se sob a bandeira da “guerra aos infiéis”, legitimando conquistas militares em nome de Alá. Da mesma forma, a Igreja Católica foi responsável por atrocidades como as Cruzadas e a Inquisição, que torturaram e mataram aqueles que se recusavam a submeter-se à fé cristã.


Atualmente, esse controle continua com novas roupagens. 

As igrejas e seitas neopentecostais, por exemplo, lucram com o comércio da fé e propagam a chamada Teologia da Prosperidade — uma doutrina que prega a prosperidade material como um sinal da bênção divina. 


Enquanto enriquecem, seus líderes reforçam a alienação de fiéis, pregando que questionar o poder é um pecado e que a salvação está condicionada à obediência e ao dízimo. 


Assim, a religião continua sendo utilizada como um instrumento de opressão, desviando o foco das verdadeiras causas da desigualdade e da injustiça social.


C) Redes Sociais:


Como bem disse o filósofo Humberto Eco, as redes sociais não criaram a estupidez — apenas deram voz aos imbecis. No passado, as ideias preconceituosas, odiosas e irracionais eram confinadas a pequenos círculos. 


Hoje, com a popularização das plataformas digitais, qualquer um pode disseminar desinformação, ódio e preconceito, atingindo milhões de pessoas em questão de segundos.


O problema das redes sociais não é apenas a proliferação de mentiras, mas a forma como elas são consumidas. 


Em um mundo onde a leitura crítica e o raciocínio reflexivo são cada vez mais raros, o público tende a aceitar como verdade qualquer informação que confirme seus preconceitos. 


As fake news se tornaram armas poderosas nas mãos dos manipuladores, que usam essas plataformas para fomentar o ódio, dividir a sociedade e desmoralizar instituições democráticas.


Porém, as redes sociais não criaram essa mentalidade retrógrada. Elas apenas potencializaram um processo que já estava em curso, agravando a alienação e reforçando o culto à ignorância. O resultado é que a violência simbólica e real se normalizou, e o ódio passou a ser visto como uma forma legítima de ação política.




O que estamos assistindo hoje é a perpetuação de um projeto autoritário, baseado na ignorância, na manipulação religiosa e na disseminação de ódio através das redes sociais. 


Essa combinação é perigosa, pois legitima a barbárie, colocando em risco os avanços civilizatórios que custaram séculos de luta.


Cabe a nós, que ainda acreditamos em valores humanos, resistir. 


É urgente defender o conhecimento, a ciência, a educação crítica e a democracia, para que não sucumbamos a essa onda de retrocessos. Afinal, como dizia Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.” 

E estamos vendo esse sonho se realizar diante de nossos olhos — é preciso reagir antes que seja tarde demais.



Sombra e Ignorância

Em pleno século que clama razão,

Retornam as sombras da escuridão.

Ideias sombrias, práticas do mal,

Com o aval de um coro banal.

Disfarçados de “cidadãos de bem”,

Propagam mentiras — a quem isso convém?

Falam de Deus, pregam divisão,

Mas são herdeiros de Caifás e traição.

A ignorância não é só acaso,

É plano das elites, um jogo raso.

Manter o povo preso ao chão,

Sem questionar, sem solução.

A religião, que poderia libertar,

Foi usada, ao invés, para dominar.

Das Cruzadas à Teologia da Prosperidade,

Promessas de céu, enquanto reina a maldade.

E agora, em tempos digitais,

Vozes de ódio ecoam demais.

As redes não criaram a estupidez,

Mas deram palco a um mundo cortês…

Um mundo cortês com o horror,

Onde o falso vence, e se louva o rancor.

Mentem, difamam, atacam sem fim,

Querem matar, apagar o que é bom em mim.

Mas a pergunta ainda ecoa no ar:

“É isso que vocês têm a ofertar?

Ódio, violência, ditadura e opressão?

Esse é o preço da alienação?”

Não nos calemos! Que a luz seja guia,

Na escuridão que o medo cria.

Contra o ódio, saber e razão,

Para que viva a democracia, e não a prisão.


https://open.spotify.com/intl-pt/album/7rGuv9hfy56WlLh8VQVmEx

👆07- Canção no gênero musical Reggae, adaptação da poesia "Sombra e Ignorância".


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