Resumo: Administração Pública Brasileira: Concepção Histórica e Reformas

 

Administração Pública Brasileira: Concepção Histórica e Reformas

 

Evolução Histórica da Administração Pública no Brasil

O Patrimonialismo veio para o Brasil com os portugueses, uma mistura de administração político-administrativa centrado na mistura entre público e privado, num contexto em que o mercantilismo buscava nas colônias as condições para obter balança comercial favorável.

As capitanias hereditárias (sistema de colonização e administração da nova coroa) destinavam territórios aos amigos do Rei e nobres chamados donatários. Devendo também aplicar a justiça, nomear funcionários, fundar vilas, construir engenhos e o pagamento de tributos (Carta Foral) pelos colonos.

Portugal criou o Governo Geral em 1548 como forma de fortalecimento da colonização. O Governador Geral passou a assumir a função de vice-rei junto com o donatário, que permaneceu até 1808, a família real volta em 1820 para Portugal após a Revolução Liberal.

O primeiro reinado (1822 a 1831) é marcado pelo Partido Português, que trouxe a criação do quarto poder, chamado moderador (o imperador nomeava os membros vitalícios do Estado, presidentes das províncias, autoridades eclesiásticas da Igreja, senado vitalício, magistrados e ministros) que atuavam ao lado do executivo, legislativo e judiciário.

O segundo reinado, de D. Pedro II é inspirado no Parlamentarismo, foi um período de modernização e desenvolvimento econômico, porém com o poder nas mãos do imperador (poder moderador).

Reformas Constitucionais e Estruturais

Outorgada em 1824 foi pautada nos princípios da monarquia e do parlamentarismo, dando poder ao imperador D. Pedro I e a criação do quarto poder chamado moderador, bem como a criação do poder de veto.

A primeira modificação constitucional veio em 1834, sendo a mais importante a de 1888, com a abolição da escravatura. A constituição de 1891 consagra um regime republicano e o federalismo. A partir de 1930 teve de se conter um novo modelo de Administração, com a modernização pela DASP (Departamento Administrativo do Setor Público) para racionalizar o aparelho do Estado.

A República

Foi com a Constituição de 1891 que se consagrou o Federalismo. Nesta época o poder moderador deixou de existir e iniciou se o Federalismo com independência dos poderes, na qual é mantido o bicameralismo (câmara de deputados e senado) exercido no Congresso Nacional. Administração Pública é bastante influenciada pela política de governadores e pelo Coronelismo e favorecimento político que se desenvolveu na época.

Somente foi reestruturada em 1930 (era varguista), inaugurando um novo tipo de Administração, chamado de Estado Novo.

Sucintamente, ocorrem algumas reestruturações:

ü Em 1934, com o concurso público há uma mudança significativa cuja ideia central era a impessoalidade e a valorização do saber técnico.

ü Em 1945, após diversas reestruturações, entra em crise o Estado Novo, com importante reforma na Constituição em 1946 ao reintroduzir a Federação.

ü Em 1956, na tentativa de modernizar é instituído um grupo para reestruturação Administrativa, a CEPA - Comissão de Estudos e Projetos Administrativos não obteve resultados importantes então em 1964 foi criado PAEG - plano de ação econômica do Governo (reduzir a inflação e reestruturar a economia).

ü Administração Burocrática com uma nova Constituição em 1967 com emenda em 1969 (leis: segurança nacional, imprensa e censura).

ü Em 1967 foi um marco para a Reforma Administrativa aconteceu, a partir do Decreto-Lei nº 200 e do Decreto 199 - Lei Orgânica do Tribunal de Contas.

ü Em 1985, a partir da Instauração da Nova República e os problemas com a inflação trouxe sérias consequências as instituições democráticas.

 

Redemocratização e Constituição de 1988

 

         Consagrou-se o retorno à Democracia, e a Constituição Federal (CF) teve forte papel descentralizador e fortaleceu o vínculo entre a população e a Administração Pública, trazendo grandes benefícios aos cidadãos por meio das Políticas Públicas nas três esferas (união, estados e municípios).

Pontos principais dos direitos sociais são elencados as áreas da: educação, saúde, trabalho, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e a universalização da saúde para os que não tinham um contrato formal de trabalho. Foram ampliados direitos trabalhistas e mecanismos de participação popular. Em 1998, com a emenda constitucional nº 29 ampliou-se a participação do usuário do serviço público.

A primeira geração, chamada de “a década perdida” na década de 80 as reformas tiveram seu foco na resolução das crises econômicas com ajuste fiscal cortando os gastos públicos reformas tributárias, desregulação e privatização. Desde 1990 as reformas estruturais foram introduzidas, chamada de segunda geração, tinha como foco a estabilidade macroeconômica com importantes reformas nas áreas trabalhistas, judiciária, aparato fiscal, mecanismos regulatórios e as relações entre governos.

Na década de 90 com a crise econômica, o Governo Collor enfatiza a redução do Aparelho do Estado em busca da excelência. A população entra em clima de impeachment de Collor que deixa a Presidência do Brasil.

A Reforma da Gestão Pública de 1995

Fernando Henrique Cardoso (FHC) nomeia Bresser-Pereira para o Ministério da Administração federal e Reforma do Estado (MARE) o plano se evidencia como uma resposta ao clientelismo e a corrupção com uma atuação mais gerencial.

FHC, apesar de se concentrar nas pautas de reformas econômicas, prometeu reformar o estado brasileiro e readquirir a capacidade de governar eficientemente o país.

Projeto de emenda constitucional introduz para nortear a Administração Pública, o princípio da Eficiência, a flexibilização da estabilidade, o fim do regime jurídico único, a participação popular e proteção aos usuários dos serviços públicos, os contratos de gestão como forma de controle de resultados e forma de ampliar a autonomia gerencial e estágio probatório para o servidor público de três anos para sua efetivação.

Os novos modelos organizacionais foram introduzidos como as agências executivas, as agências reguladoras e as organizações sociais. Dentre outros avanços, a reforma sobreviveu à mudança do governo e encontrou oposição no partido dos Trabalhadores.

Os avanços mais comuns ocorreram na esfera estadual e essas reformas vêm sendo impulsionado por fatores como:

ü As crises financeiras estaduais.

ü A propagação de ideias da Nova Gestão Pública (NGP).

ü A disseminação de boas práticas e inovações administrativas.

ü O fortalecimento de espaços federativos, por exemplo o CONSAD-Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Administração.

ü A rede entre a União e Estados para propor e negociar o programa nacional de apoio à modernização da gestão do planejamento dos estados e DF (PNAGE).

ü Um programa de financiamento da modernização das administrações públicas contratado pelo BID em 2006.

Reformas na Administração Pública

O Brasil, nascido do sistema político absoluto, passa no século XIX ao sistema político liberal e adota a democracia no século XX. Estado nasce como uma organização patrimonial, atravessando o século XIX e chegando ao final do século XX como burocrático. No final do século XX, busca ser uma organização gerencial.

As principais tendências de modificação do padrão burocrático de Weber pelo debate do modelo gerencial:

1.    A adoção de parcerias com o setor privado e terceiro setor;

2.    Mecanismos de avaliação de desempenhos e de qualidade e produtividade;

3.    Autonomia às agências governamentais;

4.    Descentralizar a política, apoiada no princípio do poder de decisão do cidadão;

5.    Realizar planejamento estratégico;

6.    Flexibilizar as regras do Direito Administrativo;

7.    Flexibilizar a política de pessoal, mantendo a profissionalização e carreira;

8.    Motivar e valorizar a ética no serviço público;

9.    Desenvolver habilidades gerenciais (produtividade, qualidade, inovação, modernização do fluxo de decisões, entre outros).

Da Reforma Burocrática até a Gestão Pública Gerencial

Especificamente ao setor público as Reformas Administrativas podem ser categorizados como:

1.    A implementação da Burocracia (Vargas/DASP);

2.    Regime autoritário/Decreto-lei nº 200;

3.    Gerencial (incompleta-crise do Estado FHC/MARE);

4.    Governança, destinada a dar mais eficiência ao Estado, garantias de direitos aos cidadãos e aperfeiçoamento dos mecanismos de processo decisório das políticas públicas.

Constata-se que ocorreram duas reformas administrativas significativas: a reforma burocrática e a reforma da gestão pública:

Ø Reforma burocrática - início na segunda metade do século XIX, referindo-se à transição do Estado Patrimonial para Estado Burocrático (Weberiano).

Ø Reforma da gestão pública - transição do Estado Burocrático para o Estado Gerencial.

 

 

Modelos de Administração Pública

Surgimento do Estado Moderno, existem na trajetória da Administração Pública três formas de atuação: a Administração Pública Patrimonialista, a Administração Pública Burocrática e a Administração Pública Gerencial.

v Patrimonialista

As reformas não foram impositivas e nem autoritárias no tempo dos monarcas no Estado Absoluto, a Administração poderia ser Patrimonial, pois não havia necessidade de separação entre seu patrimônio e patrimônio público.

No Estado Liberal, essa mudança foi necessária, uma vez que era nítida a separação entre o patrimônio dos governos e dos cidadãos – que ao pagarem seus impostos, passam a exigir garantias das suas liberdades.

Os servidores possuem status de nobreza e os cargos funcionam como recompensas, gerando o nepotismo, contribuindo para a prática da corrupção e do controle do órgão público por parte dos soberanos.

A Administração Patrimonialista é do Estado, mas não é pública, na medida em que não visa ao interesse público.

v Burocrática

Nasce na segunda metade do século XIX, com objetivo principal o combate à corrupção e ao nepotismo patrimonialista. A administração pública burocrática foi adotada para substituir a administração patrimonialista, que definiu as monarquias absolutas, na qual o patrimônio público e o privado eram confundidos.

Suas principais características estão relacionadas ao desenvolvimento, profissionalização, ideia de carreira pública, hierarquia funcional, impessoalidade, formalismo – legalidade ou poder legal, com a finalidade única de acabar com o nepotismo e a corrupção. Torna-se necessário um controle rígido dos processos e ingresso na carreira pública, com regras claras na admissão.

Observação: O que seria o nepotismo?  é o termo utilizado para designar o favorecimento de parentes (ou amigos próximos) em detrimento de pessoas mais qualificadas.

 O modelo foi bom por muito tempo quando o Estado era menor. quando o Estado passa a ser democrático e tem como responsabilidade gerar o bem comum, ocorre ampliação de suas funções nos campos socioeconômico e político com aumentos das pressões e a incapacidade do Estado Burocrático de atender de maneira satisfatória culminam na reforma da gestão pública – o Estado Gerencial.

v Gerencial

Estado deixa de ser o responsável direto pelo desenvolvimento econômico e social pela via de produção de bens e serviços para se adequar ao novo papel, o gerencial. Dá-se início a transferência para o setor privado de atividades que podem ser controladas pelo Mercado.

A questão da transparência passa a ter um lugar de destaque, uma vez que a corrupção age como um enfraquecimento da democracia, da confiança no Estado, da legitimidade dos governos e da moral pública.

Administração Gerencial veio de encontro à necessidade do desenvolvimento tecnológico, da abertura e expansão dos mercados e, da globalização da economia mundial. Ela tem uma maior flexibilidade no processo para melhorar o seu desempenho, na qual prevalecendo sempre o interesse do público e, sendo o cidadão, como ao mesmo tempo, um contribuinte de impostos, um cliente dos serviços oferecido pelo Estado.

 

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