A Era do Capital Improdutivo: quando oito famílias controlam a riqueza do mundo
Por Osvaldino Vieira de Santana
13 de setembro de 2025
A desigualdade global atingiu patamares obscenos. Apenas oito indivíduos concentram hoje mais riqueza do que metade da população mundial. Enquanto isso, 800 milhões de pessoas passam fome diariamente. Não se trata de mérito ou de genialidade produtiva, mas de um sistema estruturado para a apropriação da riqueza por meio de papéis financeiros que rendem sem produzir bens ou serviços.
O economista Ladislau Dowbor, em A Era do Capital Improdutivo, mostra como o capitalismo contemporâneo entrou numa fase em que a intermediação financeira passou a dominar os processos produtivos. Desde os anos 1980, o capital deixou de ser investido na economia real para se multiplicar em operações especulativas. Criou-se, assim, uma engrenagem onde “o rabo abana o cachorro”: o dinheiro gera mais dinheiro, enquanto os impactos sociais e ambientais são ignorados.
Essa engrenagem amplia o fosso entre ricos e pobres. O Banco Mundial demonstra que quem nasce pobre permanece preso à “armadilha da pobreza”, enquanto os ricos se beneficiam da herança e da capacidade de multiplicar rendimentos. Basta um exemplo: um bilionário que aplica um bilhão de dólares a 5% ao ano vê sua fortuna crescer 137 mil dólares por dia — valor impossível de consumir, mas facilmente reaplicado, perpetuando a concentração.
O problema é ético e também econômico. Excluir bilhões de pessoas da possibilidade de viver com dignidade significa desperdiçar talentos, capacidades produtivas e potenciais consumidores. Como alerta a Oxfam, desde 2015 o 1% mais rico já possui mais riqueza do que todo o restante do planeta. Nos próximos anos, a transferência de fortunas herdadas tende a aprofundar ainda mais essa desigualdade.
A crença de que esse sistema “funciona” é prova de cegueira mental coletiva. Não faltam recursos: o PIB global atual permitiria garantir condições dignas para todas as famílias. O que falta é governança justa e transparente, capaz de orientar os recursos em favor da vida e não da especulação.
Enquanto não forem revertidas as dinâmicas do capital improdutivo, continuaremos a ver a corrosão da democracia, a devastação ambiental e o avanço de uma desigualdade que ameaça a própria estabilidade mundial. O desafio é inadiável: reorientar a economia para a justiça social e a sustentabilidade, antes que o futuro se torne privilégio de poucos.
PoesiaPoema – A Fortuna dos Poucos, a Fome dos Muitos
Por Osvaldino Vieira de Santana
Oito tronos dourados erguem-se no alto,
guardando papéis que rendem sem suor,
enquanto bilhões caminham descalços,
com a fome batendo à porta do lar.
Não foram eles que semearam a terra,
nem que ergueram paredes, nem que criaram o pão.
A riqueza nasce do trabalho coletivo,
mas o lucro escorre para mãos de ilusão.
Milhões de crianças crescem sem escola,
milhões de corpos tombam sem hospital,
e um bilionário, sentado em silêncio,
ganham milhões por dia sem nada criar.
É a cegueira mental de um mundo doente,
que chama progresso ao abismo social.
É o capital improdutivo que consome o futuro
e transforma a vida em negócio banal.
Mas os ventos da história anunciam mudança:
não haverá paz sem justiça global.
A terra clama, os povos se erguem,
O amanhã será fruto de um pacto vital.